Levantamento aponta alta nas internações por inflamações intestinais
As internações causadas por inflamações intestinais aumentaram 61% nos últimos dez anos, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), com base em dados oficiais do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), do Ministério da Saúde. O crescimento expressivo chama atenção para um grupo de doenças ainda pouco compreendidas pela população: as Doenças Inflamatórias Intestinais, também conhecidas pela sigla DIIs.
Trata-se de enfermidades crônicas que provocam inflamação prolongada no trato gastrointestinal. Ainda não se sabe ao certo o que causa essas doenças, mas há indícios de que elas resultam de uma resposta inadequada do sistema imunológico à flora intestinal, especialmente em pessoas com predisposição genética e expostas a fatores ambientais.
As duas formas mais comuns de DII são a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa. "A Doença de Crohn pode atingir qualquer parte do sistema gastrointestinal, embora seja mais frequente no fim do intestino delgado. Já a Retocolite afeta o intestino grosso, principalmente o cólon e o reto, podendo também alcançar a porção terminal do delgado", explica Patrícia Nascimento, docente do curso Técnico em Enfermagem da Fundatec.
Entre os sintomas mais frequentes das DIIs estão dores abdominais persistentes, diarreia crônica — muitas vezes com sangue, muco ou pus —, perda de peso sem motivo aparente, cansaço extremo, febre baixa recorrente, presença de sangue nas fezes e anemia. Algumas manifestações podem se estender além do sistema digestivo, como inflamações nas articulações, lesões na pele, problemas oculares e alterações hepáticas. No caso da Doença de Crohn, também é possível a formação de aftas na boca.
Os fatores de risco associados incluem histórico familiar, desequilíbrios na microbiota intestinal, sistema imunológico desregulado e hábitos de vida. "Há um predomínio de casos em pessoas entre 15 e 30 anos, com outro pico após os 50. Dietas ricas em gorduras e alimentos ultraprocessados, uso frequente de anti-inflamatórios e tabagismo também estão relacionados ao surgimento ou agravamento dessas doenças", afirma a docente.
Para Patrícia, o crescimento nos números de internações pode estar relacionado tanto ao aumento da incidência como ao agravamento dos casos. Além disso, avanços nos métodos de diagnóstico e maior acesso à informação contribuem para a busca mais precoce por atendimento. Fatores ambientais e de estilo de vida, como a urbanização, a poluição, o consumo de fast food e o uso indiscriminado de medicamentos, também influenciam nesse cenário.
Sem o tratamento adequado, as DIIs podem levar a complicações como fístulas, abscessos, obstruções intestinais e até a dilatação severa do cólon, conhecida como megacólon tóxico — condição rara, porém grave. Também podem causar má absorção de nutrientes, resultando em anemia, desnutrição, osteoporose e, em casos mais severos, aumentar o risco de câncer colorretal.
O diagnóstico das DIIs costuma envolver exames como endoscopia, colonoscopia com biópsia, exames de sangue, fezes, além de ressonância magnética ou tomografia, dependendo do caso. O tratamento inclui medicamentos como anti-inflamatórios, imunossupressores e agentes biológicos, além de manejo nutricional e, em situações mais complexas, cirurgia.
"É fundamental que o paciente tenha um acompanhamento contínuo e siga corretamente a terapia indicada, mesmo fora das crises", orienta Patrícia.
Embora ainda não haja formas comprovadas de prevenir o surgimento das DIIs, é possível reduzir a frequência e a intensidade das crises. Entre as medidas estão a adesão ao tratamento de manutenção, alimentação equilibrada, abandono do cigarro, prática regular de atividades físicas e controle do estresse. O uso consciente de medicamentos, especialmente os anti-inflamatórios, também é essencial.