TRANSIÇÃO CLIMÁTICA EM 2026 TENDE A FAVORECER SAFRAS
_Fonte Correio do Povo_
Mudança de La Niña para neutralidade e possível El Niño deverão regular as chuvas, mas com riscos de eventos extremos e atrasos no plantio
A previsão climática para 2026 aponta um ano de transição no Rio Grande do Sul, com mudanças importantes nos fenômenos de grande escala que influenciam o regime de chuvas e o desempenho da agricultura gaúcha. A meteorologista da MetSul Estael Sias destaca que o ano começa com La Niña, mas deve evoluir para neutralidade entre o final do verão e os meses de outono. Entre o inverno e a primavera, “há um indicativo” da instalação de um episódio de El Niño, segundo ela.
“Pode ter um cenário de retorno de chuva dentro da normalidade no primeiro semestre, com condições da tendência de neutralidade. Alguma situação de frio cedo pode acontecer, mas o segundo semestre de 2026 com probabilidade de chuva, caso se confirme o El Niño”, avaliou Estael. Com a ressalva de que, somente se o episódio de El Niño se confirmar, a precipitação tenderá a ficar acima da média. “É sabido que inverno e primavera sob atuação de El Niño, embora a gente ainda não saiba a intensidade, têm uma probabilidade de enchentes regionalizadas, de chuva acima da média, de alguns problemas”, explicou. Então, ela observou que os agricultores podem se preparar para um eventual atraso de plantio na safra de verão de 2026/27, por exemplo. “Por outro lado, a chuva pode vir na quantidade necessária e facilitar também a safra de verão.”
Além de fenômenos mais abrangentes e prolongados, há ainda possíveis peculiaridades no tempo que podem ocorrer e precisam ser consideradas. “O El Niño e o La Niña são fenômenos de longo prazo. Agora, na escala de tempo de semanas, podem acontecer outros fenômenos que mudem isso”, destacou. “São fenômenos de menor escala de tempo que a gente não consegue prever com tanta antecedência e que mudam o cenário geral dentro dessa expectativa de El Niño e La Ninã”, considerou.
Safras de verão
Para o meteorologista da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e coordenador do Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro-RS), Flávio Varone, mesmo com chuvas ocorrendo abaixo da média em janeiro, por exemplo, a distribuição deverá ser relativamente boa, “o que vai favorecer a safra de verão”.
Fevereiro, segundo ele, deve ser mais seco em todo o Rio Grande do Sul. “A temperatura vai seguir próxima da normalidade, porém, vai aumentar a condição de evaporação e evapotranspiração das plantas, o que pode prejudicar algumas regiões do Estado”, alertou. O grande problema do segundo mês do ano é a possibilidade de períodos de até 20 dias de estiagem. “Pode prejudicar principalmente as culturas de verão, como a soja, que precisa de mais umidade nesse período. Os eventos de chuva devem ficar mais espaçados ao longo do mês de fevereiro”, declarou. Já em março, segundo Varone, a tendência é de retorno de chuvas mais expressivas.
Na avaliação do assistente técnico em culturas da Emater, Alencar Rugieri, o Rio Grande do Sul costuma apresentar muitos extremos em relação ao tempo, mas as previsões não apontam um cenário de maior complexidade, a não ser fenômenos que podem interferir em regiões pontuais.
“Em alguns momentos, nós temos dificuldades em algumas regiões, mas nos preocupa quando começa a expandir”, diz. Ele observou que a cultura do milho apresentou algumas dificuldades em dezembro em certas regiões por falta de chuvas, mas a expectativa é que haja alívio no próximo mês.
“Em nível do Estado, está dentro de parâmetros, de uma certa normalidade. Agora começamos a entrar na fase delicada da soja. Janeiro e fevereiro é o período que atinge a maior área de Estado no florescimento de grãos, que é o mais sensível. Na verdade, precisa de chuva, de 6 a 8 milímetros por dia. Mas a notícia boa é que nós não teremos perspectivas de grandes períodos de estiagem”, afirmou ao destacar que não estão descartados episódios de perdas em municípios ou regiões específicas.
“Se você olhar o cenário que os meteorologistas estão colocando, o ano que vem, com a possibilidade de mudança de La Niña para El Niño. Isso distensiona. Não é decreto. Mas tem a expectativa de que a condição vai ser melhor, porque normalmente, nós temos safras melhores”, disse, lembrando que tudo depende da intensidade dos fenômenos e do período que eles atuam. “Enfim, é um conjunto de fatores associados a outros fenômenos.”