'Ato de intolerância', diz fundador de santuário dedicado a Lúcifer
Espaço em Gravataí foi interditado pela Justiça por falta de alvará e outras exigências legais.Um dos fundadores da ordem religiosa que instalou um santuário dedicado a Lúcifer em Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre, classificou como um "ato de intolerância" a interdição do espaço. A decisão judicial também impediu a inauguração do santuário, que estava prevista para a terça-feira, 13 de agosto.
Mestre Lukas de Bará da Rua, líder da Nova Ordem de Lúcifer na Terra, questionou a rapidez com que a decisão foi tomada. "É um ato de intolerância. Porque eu duvido que fariam isso com uma igreja. Tem igrejas que funcionam sem alvará, tem retiros espirituais que as igrejas fazem no Carnaval, ninguém pede se eles estão lá com alvará ou não. Mas para nós foi pedido, e a Justiça acatou muito rápido", argumentou o religioso.
A interdição foi determinada pela 4ª Vara Cível Especializada em Fazenda Pública de Gravataí, após um pedido liminar da Prefeitura. Segundo a Justiça, o local não possuía alvará de funcionamento, Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI) e CNPJ constituído, requisitos fundamentais para o funcionamento de qualquer templo religioso.
"A decisão considerou que a liberdade religiosa é um direito fundamental, consagrado na Constituição Federal. No entanto, observou que os templos religiosos devem cumprir exigências para o funcionamento", explicou a Justiça em comunicado. Em caso de descumprimento, está prevista uma multa diária de R$ 50 mil.
Lukas de Bará da Rua afirmou que, após todas as tentativas de recurso serem negadas, os fundadores começaram a enviar os documentos necessários para a regularização do santuário na quarta-feira, 14 de agosto.
A Prefeitura de Gravataí, responsável pelo pedido de interdição, esclareceu que "não há qualquer vínculo ou recurso público no empreendimento" e justificou a ação devido à "insegurança diante da grande repercussão causada pelo tema".
Estátua de Lúcifer
A polêmica em torno do santuário aumentou com a instalação de uma estátua de Lúcifer, erguida na sexta-feira, 9 de agosto. Com aproximadamente 5 metros de altura, a estátua pesa uma tonelada e custou R$ 35 mil, valor financiado pelos integrantes da Nova Ordem de Lúcifer na Terra. A escultura, produzida em cimento por um ateliê, retrata a dualidade entre o homem e o esqueleto, com pés e asas, simbolizando o espírito da divindade, conforme explicação do religioso.
A criação do santuário e a instalação da estátua provocaram controvérsia em Gravataí. Nas redes sociais, houve elogios à iniciativa, com pessoas ressaltando a importância do respeito à diversidade religiosa, enquanto outras criticaram a ordem, associando-a a práticas demoníacas.
Mestre Lukas de Bará da Rua, um mestre de quimbanda independente, também é conhecido por seu trabalho com cartas e búzios negros. Em maio deste ano, ele participou da criação de um monumento dedicado a Exu em um outro município.
A interdição do santuário dedicado a Lúcifer em Gravataí levanta questões sobre liberdade religiosa e a forma como diferentes crenças são tratadas no Brasil. A polêmica em torno do caso reflete os desafios enfrentados por grupos religiosos menos tradicionais no país.
Fonte: G1 RS