PRODUTIVIDADE DA SAFRA GAÚCHA DE TRIGO AGRADOU, MAS O PREÇO DECEPCIONA
_Fonte Correio do Povo_
Cotações não acompanham a alta nos custos de produção, e a baixa liquidez compromete ainda mais os negócios do triticultor
A colheita do trigo gaúcho está praticamente finalizada, e o cenário no principal estado produtor do cereal – responsável, em 2025, por 45% da produção brasileira, segundo a Conab - é de uma safra de uma produtividade satisfatória, mas de um mercado bastante adverso aos produtores. O clima colaborou para o desenvolvimento das lavouras, enquanto as cotações não têm acompanhado as altas nos custos de produção. Além disso, a baixa liquidez tem predominado há tempo, e agora ocorre a fase de paralisia do mercado pela época do ano.
“Foi uma safra boa em termos de produção, uma bela safra”, define Alencar Rugeri, gestor da Área de Culturas Anuais da Emater/RS-Ascar. Conforme a instituição, a produção no Estado será de 3,437 milhões de toneladas, com produtividade média em 3.012 quilos/hectare. Mas em regiões como a Nordeste, nos municípios de Lagoa Vermelha, Vacaria e São José dos Ausentes, ocorreram produtividades de até 6 mil kg/hectare. “Sempre que tiver um ano bom (em produtividade), no Nordeste será melhor”, menciona Rugeri.
Segundo ele, o clima foi o fator fundamental para a boa colheita gaúcha, com chuvas suficientes às demandas das plantações, e não ocorreram calores acompanhadas de precipitações em setembro e outubro - o que seria “um desastre para o trigo”, conforme define - e noites com temperaturas amenas e sem umidade.
“Neste ano o clima foi melhor ainda e expressa o potencial de rendimento que a cultura tem”, sintetiza o técnico. “De maneira geral não foi um ano de altos investimentos (pelos produtores), mesmo quem tinha condições, porque o cenário de preços não era o mais atrativo”, avalia. “Não que o produtor tenha feito mal, mas não foi o melhor plantio da história do Estado”.
Mercado complicado
Já na etapa pós-lavoura tudo se complica. “O mercado do trigo vem passando por uma fase bastante complexa, bastante desafiadora”, resume Evandro Oliveira, analista da Safras & Mercado. “Uma cadeia produtiva com uma liquidez bastante reduzida, uma simetria regional, cada estado se comportando de uma forma, mas algo característico de final de ano. Nas próximas semanas diversos moinhos entrarão em período de recesso, de pausas operacionais. Então é normal que o mercado dê uma acalmada”, acrescenta.
Conforme a Emater/RS-Ascar, no último dia 12 a cotação do cereal variava no Estado entre R$ 53 a R$ 58 a saca, e um ano atrás a média era de R$ 65. Já Oliveira menciona o valor de R$ 1.000 a R$ 1.020/tonelada, com moinhos pagando entre R$ 1.050 a R$ 1.080.
Além disso, os custos estão mais altos, o que leva à perda de competitividade e redução de margens aos triticultores. “O custo de produção, assim como as outras culturas, é crescente e o preço não vem acompanhando. Houve uma pressão de baixa por conta do ingresso da safra e demanda retraída, naturalmente resultando numa margem negativa”, descreve.
“Se comenta que nunca custou tão caro produzir trigo no Brasil”, revela Oliveira, que menciona o aumento de 60% nos custos. “Nossos vizinhos estão fazendo os temas de casa. Produzindo mais barato e ofertando mais barato no mercado. Vamos ficando para trás. O produtor entra na safra sabendo que as chances de não ganhar nada são enormes. Ou até de ter perdas”, lamenta.
Oliveira lembra que o Rio Grande do Sul vivencia hoje uma “forte dependência” das exportações, algo semelhante ao segmento do arroz. Segundo ele, o RS já comercializou 30% da safra de trigo, e, deste volume, 70% foi para o mercado externo, ou mais de 680 mil toneladas embarcadas ou programadas, cujos principais destinos são Vietnã, com 269 mil toneladas, Bangladesh, 200 mil, além de Indonésia e Quênia.
“O Rio Grande do Sul vai virando um estado exportador compulsório, sem outras alternativas (para comercialização). Temos que buscar o mercado externo. Por isso que precisamos de competitividade. O dólar vem ajudando nisso”, avalia.