VACINA CONTRA A DENGUE REDUZ CARGA VIRAL E PODE CONTER TRANSMISSÃO DA DOENÇA, DIZ ESTU
_Fonte Correio do Povo_
Redução na carga viral pode significar o desenvolvimento de sintomas menos graves e um risco significativamente menor de complicações
Um estudo recém-publicado na prestigiosa revista científica The Lancet Regional Health - Americas trouxe novos dados promissores sobre a vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan. A pesquisa demonstra que o imunizante é capaz de frear a replicação do vírus mesmo quando ocorre a infecção em pessoas vacinadas — fenômeno conhecido como breakthrough cases ou casos de escape vacinal.
Para o paciente, essa redução na carga viral pode significar o desenvolvimento de sintomas menos graves e um risco significativamente menor de complicações. Do ponto de vista da saúde pública, o impacto é ainda mais amplo: uma baixa carga viral está diretamente associada à redução do risco de transmissão do vírus para os mosquitos, o que pode ajudar a conter a propagação da doença.
Impacto na transmissão
Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) e autor correspondente do artigo, explica que o dado sugere que a vacinação pode ter um papel crucial na minimização de novos surtos. A pesquisa contou com a participação de Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan, que liderou os testes clínicos da vacina.
A vacina Butantan-DV, desenvolvida com apoio inicial da Fapesp, foi aprovada pela Anvisa no final de novembro de 2025. A previsão é que comece a ser oferecida na rede pública de saúde em 2026, atendendo a faixa etária entre 12 e 59 anos. Dados da terceira fase de testes indicam uma eficácia geral de 74,7%, chegando a 100% de eficácia contra hospitalizações.
Segurança contra variantes e mutações
A pesquisa analisou 365 amostras de sangue de participantes do estudo clínico de fase 3, comparando vacinados e o grupo placebo. Por meio de sequenciamento genômico completo e análise filogenética, os cientistas buscaram responder se a vacina estaria falhando contra linhagens específicas ou se estaria forçando o surgimento de variantes resistentes (pressão seletiva).
Os resultados mostraram que as cepas virais eram as mesmas nos dois grupos e que não houve diferença nas taxas de mutação. Através da técnica de deep sequencing, concluiu-se que o sistema imune treinado pela vacina não selecionou variantes raras ou perigosas dentro do organismo dos imunizados. Segundo Nogueira, esses dados reforçam a robustez do perfil de segurança e eficácia do imunizante brasileiro.
Contexto epidemiológico
O estudo focou nos sorotipos DENV-1 e DENV-2, que foram predominantes no Brasil entre 2016 e 2021 e também em 2024, ano que registrou a maior epidemia da história do país, com mais de 6 milhões de casos. Como os registros de DENV-3 e DENV-4 foram raros durante o período analisado, a eficácia contra esses sorotipos específicos continuará sendo monitorada e avaliada em estudos futuros.